terça-feira, 18 de março de 2008

A professora Daisy

(crônica de Alma Welt)



Recebi um e.mail de uma professora de do primeiro ciclo (ginasial) que tendo percebido que seus alunos, principalmente as gurias, entravam no meu site para ler meus “textos eróticos”, estava preocupada, pois , segundo ela, as meninas estavam ficando praticamente viciadas e havia burburinho no pátio e nos corredores, de comentários e risinhos maliciosos. . Diante disso ela, a professora Daisy (vou chamá-la assim ) descobrira através de uma delatora o endereço do meu site e entrara para conferir a periculosidade dos textos que estavam causando tal alvoroço.

Dona Daisy não me pareceu uma pessoa particularmente intolerante ou moralista fanática como poderia ser. Ao contrário, me pareceu bastante ponderada. Dizia na sua carta que se surpreendera com qualidade literária dos meus textos e gostara mesmo de alguns sonetos, crônicas e cartas. Mas, ponderava ela, os textos eróticos justamente por serem bem escritos eram aliciantes e influenciavam as garotas. Havia um elemento incestuoso que chocava, embora descrito com lirismo, etc. Perguntava se eu não poderia retirar esses textos do site, ou... reformá-los, já que estavam alvoroçando os jovens da sua escola.

Eu imediatamente respondi enviando-lhe um e.mail dizendo que eu consultara o meu próprio coração e que não podia fazer isso. Minha consciência de artista não me permitia voltar atrás. Eu me expusera conscientemente e de coração limpo, que não havia pornografia nos meus textos e que, sendo assim, não havia, como a palavra indica, sujeira. Logo, não poderia fazer mal aos guris os meus textos. Pelo contrario eu os fazia ver a beleza do sexo livre e explicito. De maneira positiva eles aprenderiam a diferença entre erotismo e pornografia..

Dona Daisy respondeu numa segunda carta, argumentando entre outras coisas o seguinte: sim, ela reconhecia que meus textos não eram pornográficos, e que estava ela mesma fascinada por eles. Mas percebia que estavam aumentando os casos de namoros entre as garotas. Isto é, garotas com garotas. E que já presenciara beijos na boca, “selinhos” entre elas , e até mesmo beijos mais ardentes, garotas de mãos dadas pelos corredores e pelos pátios. E que atribuía esse comportamento à influência de determinado texto meu, pois encontrara copias xerox desse conto entre os cadernos e livros de algumas alunas. Dona Daisy me perguntava se eu tinha consciência de que estava induzindo as jovens ao lesbianismo.

Desta vez respondi um pouco mais exaltada: “Dona Daisy , deixa as tuas alunas lerem, se excitarem, amarem e experimentarem. Nada do que fizerem não estava já dentro delas. Tuas alunas que se beijam , já se beijavam escondidas. E aquelas que não o fazem, provavelmente não o farão nunca. Trata-se de tendências naturais. Não tente impor a lei seca, Dona Daisy! As gurias são molhadinhas de nascença.

Dona Daisy, infelizmente sumiu da minha caixa de e.mails, justamente quando a nossa polêmica estava esquentando e eu estava ficando empolgada.

Mas algo nas suas cartas me faz supor que ela continua lendo meus textos e que ainda terei notícias dela.

Nenhum comentário: