terça-feira, 18 de março de 2008

Minha avó Frida

(crônica de Alma Welt)

Ontem subi ao sótão do nosso casarão para “fuçar” um pouco, talvez descobrir alguma curiosidade acerca da história da família, desde pelo menos meus avós. E realmente encontrei. Velhas fotos do meu avô Joachin em uniforme de soldado da primeira guerra mundial (pela data atrás, e ele viera para o Brasil antes da Segunda Grande Guerra ), com fuzil na mão e tudo. Mas já tinha um olhar duro de nazista, Deus o perdoe. E... de repente, uma foto da minha avó Frida, jovem. Aliás, só a reconheci por uma certa semelhança comigo, e pelo nome atrás. Ela era linda! Jamais pensei nela assim. Eu a conheci como uma velha curvada, de aspecto plebeu, enorme nariz adunco, desdentada, queixo proeminente, grotesca, de cabelos brancos longos e soltos, como as velhas burguesas não usam, e que lhe davam ares de bruxa medieval, de gravura de Dürer ou de Hans Baldung Grien. Ela sempre me fascinara, como tal. E agora esta! Ela fora linda na juventude! Bem, ela só ficara com aspecto de bruxa, mas não era má, ou não dava essa sensação depois do primeiro contato. Ela era divertida e ria muito, aliás, gargalhava: uma casquinada muito fina, que reforçava a idéia de uma feiticeira picaresca. E ainda por cima ela contava estórias anedóticas, de estranho humor satírico. Eu adorava isso. Já recontei algumas estórias dela dentro do meu romance “O Sangue da Terra”, no capítulo chamado “O Condestável Gottfried” que coloquei aqui no LL, há meses.

Pois bem, ao vê-la assim, jovem, esplêndida, eu procurei naqueles olhos doces da fotografia, aquela luz pícara, a malícia que ela transmitia nas suas estórias. E... encontrei! Estava lá. Bem... eu sei que tudo isso é muito subjetivo, imponderável, e... impossível de conferir. Quem poderia prever, pelos olhos, a futura bruxa de amanhã?

Olhei-me imediatamente ao espelho.

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