quinta-feira, 18 de junho de 2015

A morte de um gaúcho (crônica de Alma Welt)

"Um manhã, quando eu era guria, vagando como de costume pela coxilha não muito longe do casarão, vi ao longe um cavalo selado, de cabeça baixa sem o seu cavaleiro. Intrigada, andei até lá e deparei com o corpo caído de um gaúcho . Ele estava morto, ostentando uma ferida no peito. Fiquei uns minutos ali, mais curiosa que perplexa, e então voltei ao casarão para avisar meu pai. De noite percebi minha mãe, a Açoriana, andando no corredor e abrindo levemente a porta do meu quarto para me observar. Eu estava insone, mas não, eu não tinha medo, mas uma curiosidade imensa de desvendar aquele enredo, assistindo àquele duelo e seus desdobramentos em minha mente..." ( Alma Welt)

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O tamanho do mundo (crônica de Alma Welt)

"Uma vez, quando ainda era uma guriazinha fugi de casa, de manhã, para "conhecer o mundo". Atravessei o portão do jardim, depois a porteira e fui andando pela estrada da coxilha. Andei e andei, tanto que fiquei exausta e com fome. Sentei na beira da estrada e chorei de decepção do mundo e vergonha de mim mesma. Até que chegou o Galdério, de charrete, e me tirou daquela enrascada, dizendo com naturalidade: "Alma, vim só lembrar-te que está na hora do almoço. Vou voltar já. Queres uma carona?"
Meu fiel charreteiro era realmente sutil..." (Alma Welt)
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O tamanho do mundo (de Alma Welt)
Guria andei sozinha numa estrada
Aqui mesmo na estância, para ver
Aonde ela ia dar, e desastrada
Não cogitei da confusão que ia fazer.
Andei por uma hora e não acabava,
E já passava da hora de almoçar.
Pensei: mais uma hora pra voltar...
E sentando à margem mais chorava.
Então vi o Galdério na charrete
Que a mando do meu pai me procurava
E conhecia muito bem esta pivete
E levantando e enxugando o ranho
Eu disse: "Ah! Galdério, eu não contava
Com que o mundo tivesse esse tamanho..."

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Meu pequeno vigilante (crônica de Alma Welt)


"Tenho o hábito de acordar bem cedo e vagar pela coxilha que cintila lindamente em reflexos prateados seu orvalho da madrugada. Numa manhã dessas topei com um negrinho aqui da estância que me fazia pensar no Negrinho nosso do Pastoreio, embora nunca esteja pastoreando nenhuma rês. Ele disse logo: "Bom dia Dona Alma. Eu vejo a senhora de manhã todos os dias, mas me escondo atrás dos cupins por isso a senhora não me vê. Hoje tomei coragem e não me escondi." Surpresa, eu disse sorrindo: "Bom dia, Raimundinho! Mas que negócio é esse de me observar escondido? Não sabes que isso é feio?" Então ele sorriu meio envergonhado e respondeu: "Ah! Dona Alma... É que assim eu penso que estou protegendo a senhora, porque de perto e de frente é como se a senhora é que estivesse me protegendo, e não é certo." Fiquei olhando pra ele, comovida de ver que ele se conhecia tanto, capaz de expressar uma coisa como essa, que resumia toda a sua dignidade e fidelidade, com as quais eu poderia sempre contar..." (Alma Welt)