terça-feira, 16 de julho de 2013

O Mistério das partidas (crônica relâmpago de Alma Welt)

"Quando o trenzinho ainda ligava as cidades do meu pampa, nas pequenas estações de espera e chegada a vida parecia fazer mais sentido do que agora. Eu não questionava senão o mistério e a pequena dor das partidas..." (Alma Welt)

Sobre os que sonham com o Céu ( mini-crônica de Alma Welt)

"Meu pai, o "Vati", como eu o chamava, era ateu e não deixou minha mãe, a "Açoriana", batizar-me. Criou-me como uma pequena pagã, cercada das estórias de deuses e mitos, com a intenção de moldar-me como uma obra de arte clássica. Entretanto, como era um erudito e fundamentamente um romântico alemão, disse-me um dia: "Alma, não desprezes os que sonham com o Céu. Afinal esse sonho criou grandes obras que podemos reverenciar, e que foram feitas por artistas profundamente devotos. Quem somos nós para menosprezá-los? A ingenuidade, em sua pureza, cria mundos sublimes que o simples medo não logra construir. Quisera eu ter a fé de tão grandes artistas... " (Alma Welt)

O Gaúcho Fiel ( mini-crônica de Alma Welt)

O gaúcho montado se aproximou de mim na coxilha e disse: "Patroinha, tem um marrão solto nestes pastos e o Patrão me pediu que vigiasse vosmecê." - "Que dizes, Ubaldo?"- exclamei. "O patrão morreu faz um ano! " Ele retrucou: " Sim, patroa, mas as ordens dele eram tão boas que continuam..." Não pude deixar de sorrir. (Alma Welt)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

As Doze Badaladas da Meia- Noite (mini-crônica de Alma Welt)

“Nada mais sinistro do que as doze badaladas da meia-noite no antigo relógio de pêndulo da sala do velho casarão de nossa estância. Guria, eu ficava acordada aguardando-as na esperança de rever meus fantasmas prediletos: Bento Gonçalves, Netto, Anita e o italiano... E eles me apareciam às vezes, acreditem ou não. Mas também surgiam alguns intrusos que presumo saíam da minha própria sombra. Se esse era um preço difícil de pagar, tudo isso me dava a medida da misteriosa alma humana, que seria a matéria viva da minha poesia...” (Alma Welt)

Diante de minha mãe morta (micro-crônica de Alma Welt)

"Quando guria, diante do corpo de minha mãe morta, observando os parentes dei-me conta do absurdo de se falar com um cadáver ou mesmo de pranteá-lo. Percebi que minha mãe, a Açoriana, já não estava ali... e isto era o mais terrível, porque nós nos desperdiçáramos..." (Alma Welt)