sábado, 28 de janeiro de 2012

A Penélope do Pano Verde (mini-crônica de Alma Welt)

Uma das mais marcantes recordações da minha infância foi o retorno de meu irmão Rodo, que fora colocado num Internato por vários anos para separar-nos depois do nosso flagrante pela Açoriana, nossa mãe, nós dois nuzinhos sob a macieira do pomar. Quando fomos esperá-lo na estação, o trem chegando a resfolegar e a silvar, eu dava pulinhos e batia palmas de excitação. Quando a máquina parou em meio a todo aquele vapor e as portas dos vagões se abriram, avistei meu irmão, guri magnífico, que me pareceu mais belo que nunca. Corri em sua direção e nos abraçamos tão forte que a Mutti e Matilde tiveram que nos apartar, puxando-nos cada um para um lado. Eu estava decidida a nunca mais deixá-lo partir, mesmo sem saber como...
Entretanto, eu não sabia que a semente da separação já estava plantada, e não fora a simples distância: Rodo aprendera o jogo de pôquer na escola, com meninos mais velhos. No caminho de volta, na charrete com Galdério, ele tirou do bolso um maço de cartas de baralho e nos mostrou com elas sua nova habilidade de ilusionista. Eu, encantada, não sabia o que me esperava bem lá para frente, a pequena Penélope do pano verde que eu me tornaria um dia, e novamente por tantos anos... (Alma Welt)

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