segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Baluarte (mini-crônica de Alma Welt)

Uma manhã, estava eu andando na coxilha a contar sílabas nos dedos, quando o tempo subitamente fechou, clarões me ofuscaram e a chuva começou a cair. Me senti vulnerável e temi ser fulminada por um raio. Então vi o Galdério a cavalo, galopando em minha direção, e pensei: "Eis o meu anjo guardião"... Ele chegou e sem apear estendeu-me a mão que peguei, e num impulso, pela força de seu braço lá estava eu em sua garupa. Abracei-o assim por trás, meu rosto e meu corpo colados à suas costas que me pareceram a muralha de uma fortaleza. E pensei, juro que pensei: "Que grande força é o homem! Está tudo certo, este peão é o meu baluarte e eu sou sua princesa... espero ser digna de sua voluntária servidão." Pouco depois estávamos diante do casarão e ele apeando pegou-me pela cintura e me desmontou como se seu fosse muito leve... Matilde vinha pela varanda com uma toalha para me acolher, me envolver, me enxugar. Eu jamais me esqueceria desses momentos, daquela aconchegante sensação de pertencer, que estaria para sempre na raiz da minha poesia... (Alma Welt)

Nenhum comentário: