domingo, 8 de janeiro de 2012

A Morte da Açoriana (uma recordação de Alma Welt)

Lembro-me do dia, era uma manhã, e eu, guria, com o coração perturbado pela doença da Mutti, tinha saído para andar na coxilha e subitamente senti que devia voltar. Ao reentrar encontrei soluços por todo o casarão. Matilde veio a meu encontro no salão e estendendo-me as mãos disse: "Onde estivesse, guria má ! Tua mãe está partindo e tu nem te importas! Vá logo despedir-te enquanto é tempo!" Entrei no quarto, hesitante, temerosa, e... assustei-me. Minha mãe parecia um cadáver ainda vivo, branca como cera, os olhos encovados, pele sobre os ossos, e virando lentamente o rosto, estendeu-me penosamente os braços. Permaneci paralizada junto a porta: eu tive medo e não me aproximei ao seu apelo. Ela, então, deixando cair os braços soltou um longo suspiro, um estertor, e paralisou-se como um instantâneo. Então fugi dali correndo, e sinto que estou fugindo, correndo ainda hoje. Quanto remorso eu sentiria pela vida afora! A Açoriana... minha mãe, queria tocar-me, abraçar-me, que sei eu? Eu eu fugi. Ela me perdoara, ela me amava... e eu não pude dizer que também a amava... (Alma Welt)

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