segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Queda da Casa de Welt (crônica de Alma Welt)

Quando chego de viagem, de volta à estância, noto-lhe a nítida e progressiva decadência. O casarão, o vinhedo e sua modestíssima produção, tudo está se arruinando como a queda da Casa de Usher* embora com sabor pampiano, riograndense. Já me vêm vagando nas noites assombradas, pois que realmente os fantasmas farroupilhas cada vez mais se alvoroçam com a presença desta última romântica tardia e delirante, que sou eu. Matilde não pára de acender velas todas as noites, e tantas, que extrapolaram há muito o âmbito de seu quarto ou da cozinha e invadiram o salão e até os quartos desocupados, vazios. Corremos o perigo de um incêndio, é o que temo...
Eu digo à Matilde: "Mulher, para quê tantas velas? Umas poucas não bastam? Não é a tua devoção que conta? O que queres? Com quem te relacionas em tuas preces, que tantas velas exige?" E ela responde: "Não sabes, guria? Com os espíritos que tu chamas a cada poema teu que escreves. Eles te cercam e eu os vejo cada vez mais e como te querem, minha niña, como cobiçam o teu belo, triste e atormentado coração. Então não vês que esta ruína que nos ameaça se deve a ti mesma?" (Alma Welt)

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