segunda-feira, 1 de junho de 2015

Meu pequeno vigilante (crônica de Alma Welt)


"Tenho o hábito de acordar bem cedo e vagar pela coxilha que cintila lindamente em reflexos prateados seu orvalho da madrugada. Numa manhã dessas topei com um negrinho aqui da estância que me fazia pensar no Negrinho nosso do Pastoreio, embora nunca esteja pastoreando nenhuma rês. Ele disse logo: "Bom dia Dona Alma. Eu vejo a senhora de manhã todos os dias, mas me escondo atrás dos cupins por isso a senhora não me vê. Hoje tomei coragem e não me escondi." Surpresa, eu disse sorrindo: "Bom dia, Raimundinho! Mas que negócio é esse de me observar escondido? Não sabes que isso é feio?" Então ele sorriu meio envergonhado e respondeu: "Ah! Dona Alma... É que assim eu penso que estou protegendo a senhora, porque de perto e de frente é como se a senhora é que estivesse me protegendo, e não é certo." Fiquei olhando pra ele, comovida de ver que ele se conhecia tanto, capaz de expressar uma coisa como essa, que resumia toda a sua dignidade e fidelidade, com as quais eu poderia sempre contar..." (Alma Welt)

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