sábado, 18 de fevereiro de 2012

Livros Proibidos (crônica de Alma Welt)

Quando adolescente acostumei-me a acordar de madrugada, programando minha mente para despertar com os galos, e sair do meu quarto pé-ante-pé, deslizando como uma sombra para ir à biblioteca e "investigar" os livros ocultos ou disfarçados do Vati. Ali descobria coisas incríveis, por vezes estarrecedoras. Ali folheei e li por pedaços vários livros do Marquês de Sade e o grande volume do psiquiatra austríaco Wilhelm Stekel, "Sadismo e Masoquismo". Eu frequentemente me chocava, e tinha sonhos conturbados e até pesadelos. Mas minha curiosidade era maior. Devorei as obras de Nietzsche e foram elas que me denunciaram, pois levei o "Anti-Cristo" para a cama, e a Mutti, notando o meu deslizar noturno que atribuiu inicialmente a um suposto sonambulismo, evitando despertar-me seguiu-me e flagrou a minha leitura proibida. Foi um escândalo. Nunca a vi tão furiosa com meu pai, exigindo dele que queimasse aquele livro "pérfido", "demoníaco", e muitos outros. Meu pai se recusou a fazê-lo mas não teve outro jeito senão escondê-los, trancá-los. Mas sua piscadela cúmplice me tranquilizou. Depois, uma hora, sentada no seu colo, ele me diria: "Alma, tu sempre encontrarás esses livros, não tenhas pressa. Talvez tua mãe tenha em parte razão. Não enche a tua cabeça tão cedo com a face negativa ou problemática do mundo. Ela virá a ti no devido tempo sem tirar-te o sono. Lembra-te minha filha, o conhecimento de nada vale se não tornar o homem mais sereno, talvez mesmo mais feliz. Vamos, vamos, durma durante a noite e corra no jardim e na coxilha de manhã. E eu te prometo que tudo o que me perguntares, responderei, aberta e honestamente... (Alma Welt

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