terça-feira, 13 de março de 2012

A Cordinha (crônica de Alma Welt)

Quando fui internada na Clínica ....* , como todo paciente, perdi a minha autonomia e liberdade, e era tratada de maneira indisfarçada, como louca. Eu tinha sido encontrada a vagar pelo meu bosque, esfarrapada, seminua e arranhada. A primeira providência depois das doses cavalares de tranquilizantes ou anti-depressivos (e um invasivo exame de corpo de delito) e o diagnóstico antiquado de "ninfomania" e histeria (!!) foi enfiarem-me num camisolão informe, sem cintura, e calçarem-me umas pantufas infames. Senti que o objetivo, consciente ou não, era enfeiar-me, tornar-me disforme, como um castigo. Então descalcei-me para exibir meus belos pés, e procurei uma cordinha qualquer para passar na cintura para ficar menos deselegante. Foi-me peremptoriamente negada pelas enfermeiras com olhares de desconfiança, e mesmo de censura. Cordas e cintos jamais! Então rasguei a barra do camisolão e improvisei com a faixa resultante um cinto que me ressaltou a cintura delgada. Isso me foi tolerado graças à minha Doutora Jensen, o meu anjo naquele inferno. Bem, mas passei a ser olhada de maneira estranha por um enorme enfermeiro... e por uma das moças da secretaria, aquela que afinal, em troca de meus beijos e carícias me ajudou a fugir para estrada onde peguei carona de caminhão para voltar à estância a tempo da festa de Ano Novo, pois o Natal eu passara numa absurda festa de "amigo secreto" entre os louquinhos. Já narrei nalgum lugar a saga desse retorno ao lar...(Alma Welt)

Nenhum comentário: