quarta-feira, 29 de novembro de 2023

NO FIO DO BIGODE

Quando eu tinha quinze anos e era portanto uma ninfeta, o Vati dando uma churrascada em nossa estância no dia de Santo Antonio, eu vestida de prenda, um guri de uns nove anos, filho de um estancieiro vizinho, vestido como um peãozinho e com um bigode de carvão sentou ao meu lado e disse, desenvolto: "Alma, eu te amo e vamos casar quando eu for grande. Mas tu tem que me esperar. Tu me espera?"
Eu o olhei com vontade de rir, mas só disse: "Guri, até lá eu estarei muito velha, e tu não vai mais me querer". "
Ele retrucou: " Vou, sim, eu gosto de gurias mais velhas..."
Eu olhei um pouco mais com os olhos no seu bigodinho e disse:
"Olhe, Martim, para esse acordo valer tu vai ter que assinar um contrato com testemunhas e tudo... Dá muito trabalho".
E ele:
"Não Alma, meu pai disse que entre gente honesta é no fio do bigode" (e ele passou a mão no lado direito do bigodinho, borrando-o).
Eu dei um grande suspiro e disse:
"Quando eu tiver trinta anos e te apresentares com a metade do bigode, a do lado esquerda, eu me casarei contigo. Não te esquece... do lado esquerdo, o do coração!"
E sai correndo e dando uma gargalhadinha. Na corrida dei uma ligeira olhada para trás e... vi que ele estava iluminado!
E... estranho... senti que me casaria mesmo com ele, se ele mantivesse aquele brilho...
(Alma Welt)
29/11/2007

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